Cerca de 40% das pessoas negras adultas são empreendedoras no Brasil. Estas pessoas podem ser denominadas afro-empreendedoras e são aquelas que usam uma estratégia de desenvolver uma atividade empresária, criativa e inovadora, com ou sem o auxílio de colaboradores. Um ponto importante a ser destacado é que ser afro empreendedor não é ligado ao objeto da atividade e sim à condição étnica do sujeito: toda pessoa negra que empreende é afro empreendedora.
O afroempreendedorismo no Brasil, apesar de ser uma estratégia bem antiga de sobrevivência das pessoas negras – há registros que datam de antes da abolição da escravidão – não obedece às mesmas dinâmicas do empreendedorismo praticado por pessoas brancas e isso tem raízes históricas.
Com a abolição da escravidão, o que se viu foi o incentivo do Estado brasileiro à imigração europeia para ocupar os novos postos de trabalho. Com a vinda de imigrantes, também houve uma organização de um sistema educacional para qualificação dessa nova mão de obra. Ao mesmo tempo, as pessoas negras foram abandonadas à própria sorte: sem escolas, sem propriedades, sem direitos. Essa política garantiu aos brancos não apenas o posto de elite, mas também as melhores colocações mesmo dentro da classe trabalhadora.
Como consequência vemos que, mesmo após de mais de 130 anos do fim da escravidão, pessoas negras ocupam os piores postos de trabalho e ganham os piores salários: 67% de negros no Brasil recebem até 1,5 salário-mínimo. Nesse ritmo, a igualdade salarial entre brancos e negros no Brasil só será possível em 2089.
Esses elementos contribuem para que a maioria dos afro empreendedores sejam pessoas que empreendem por necessidade e não por desejo de se dedicar a algo que domina. Ou seja, negros e negras empreendem por falta de oportunidades no mercado de trabalho. Considerando ainda que o índice de escolaridade da população negra no Brasil é mais baixo do que o da população branca, muitos afro empreendimentos acabam tendo vida curta.
Entretanto, a movimentação de afro empreendedores tem apresentado características bem inovadoras que se diferenciam de negócios liderados por pessoas brancas. Primeiro porque o afro empreendedorismo vem proporcionando a disponibilização de produtos que não foram disponibilizados tradicionalmente: empreendedores negros apresentam uma visão privilegiada sobre as necessidades da população negra, atendendo especificidades de consumo e da experiência de ser negro ou negra no mundo. Um mercado que sempre foi centrado nas necessidades das pessoas brancas levou à ausência de produtos e serviços que abrangessem as características culturais e físicas do povo negro. Um segundo ponto a ser destacado é que o afro empreendedorismo vem promovendo iniciativas de organização em rede, tais como o Black Money, que vêm buscando fortalecer o afro empreendedorismo a partir de uma perspectiva que ultrapasse o lucro mas que agregue valor à atividade empresária de pessoas negras como o fortalecimento da comunidade negra e o uso da movimentação financeira como estratégia de combate ao racismo estrutural. Para tal, tem sido fundamental o compromisso não apenas da comunidade negra, mas também daqueles e daquelas que buscam se comprometer com uma agenda de combate ao racismo.
Se você – sendo pessoa negra ou branca – identifica que o fortalecimento das pessoas negras perpassa pela garantia de suas condições dignas de trabalho e subsistência, você pode:
- Comprar de pessoas negras: privilegie comércios e iniciativas lideradas por pessoas negras, evitando grandes conglomerados do varejo.
- Contratar pessoas negras: Privilegie pessoas negras ao contratar alguém mesmo que ela não tenha tanta experiência. Lembre que ela pode não ter tido a experiência necessária por ter passado por situações de racismo anteriormente. Ofereça oportunidades. O racismo estrutural se manifesta de forma muito intensa na escolha dos candidatos que têm o “perfil” da empresa. Historicamente, pessoas negras sempre tiveram sua imagem ligada à incompetência e/ou incapacidade de lidar com a função e isso trouxe barreiras à contratação. Essa é uma das motivações para a existência da política de cotas raciais.
- Apoie iniciativas como o Fundo Agbara que promove qualificação e aporte financeiro à afro-empreendedoras. Com apenas 20 reais por mês por 12 meses você pode contribuir para que negócios liderados por mulheres negras recebam o incentivo que merecem.